
Dra. Wilma Anselmo-Lima conquista cadeira de professora titular da FMRP-USP
A Otorrinolaringologia brasileira acaba de conhecer a primeira professora titular da especialidade. Também presidente da Academia Brasileira de Rinologia, Dra. Wilma T. Anselmo Lima participou do concurso realizado na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo nos dias 11 e 12 de julho, e conquistou o posto.
A avaliação foi feita a partir de uma aula de erudição, com o tema definido pelos candidatos; julgamento dos títulos e arguição do memorial. Dra. Wilma concorreu com outros três profissionais e se diz satisfeita com a experiência. “O preparo foi árduo, porém interessante”, diz. “Trata-se da sensação de reconhecimento de um trabalho desenvolvido nos últimos 25 anos no que tange ao puro engajamento na graduação e na pós-graduação da Universidade”, acrescenta.
Para ela, o desafio, de agora em diante, será manter a qualidade do serviço e da pesquisa acadêmica. A ABORL-CCF parabeniza a Dra. Wilma pela conquista e deseja sucesso nesta nova etapa.
Confira abaixo a íntegra da entrevista com a Dra. Wilma Anselmo Lima:
Como foi o concurso? Qual o seu objetivo?
Primeiramente, temos que entender como é a distribuição de vagas para Professor Titular na USP e na FMRP, demasiadamente criteriosa. No início de cada ano, a Reitoria da USP solicita a todas as Unidades o preenchimento de uma tabela; nesta, consta o número de publicações, por departamento, de todos os Professores Titulares e Associados; os quais, na USP, possuem Livre-Docência.
Por meio dos dados explicitados, a Reitoria destina um determinado número de vagas para Professor Titular às Unidades. Feito isso, os Professores Associados da FMRP interessados em pleitear as vagas preenchem um formulário. Este contém toda a sua produção acadêmica (ensino, pesquisa e assistência), cuja pontuação é feita de acordo com critérios definidos pela Congregação. A mesma define assim a destinação das vagas oferecidas pela USP.
O Departamento de Oftalmologia, Otorrinolaringologia e Cirurgia de Cabeça e Pescoço da FMRP-USP foi contemplado com uma vaga para Professor Titular em 2012, algo esperado há então sete anos. Atualmente, na USP, a carreira de Docente contempla as seguintes etapas: Professor Doutor e Professor Associado, ambas com níveis I, II e III, e finalmente Professor Titular, última etapa e principal objetivo dos Docentes que se dedicam inteiramente à carreira universitária. Trata-se de um concurso público ao qual qualquer Professor Livre-Docente pode candidatar-se, ainda que externo à USP.
No concurso em questão, a Banca foi constituída por cinco Professores Titulares de renome, aprovados em reunião da Congregação da FMRP:
Prof. Dr. Benedito Carlos Maciel – Presidente
Professor Titular do Departamento de Clínica Médica da FMRP-USP
Prof. Dr. Miguel Srougi
Professor Titular do Departamento de Cirurgia – Divisão de Clínica Urológica
Prof. Dr. Edmund Chada Baracat
Professor Titular do Departamento de Obstetrícia e Ginecologia da FMUSP
Prof. Dr. José Luiz Gomes do Amaral
Professor Titular do Departamento de Cirurgia – Disciplina de Anestesiologia, Dor e Terapia Intensiva da UNIFESP
Profª Drª Maria Aparecida Coelho de Arruda Henry
Professora Titular do Departamento de Cirurgia e Ortopedia da UNESP – Campus de Botucatu
Em que consistia a avaliação? Quais foram as etapas e quando saiu o resultado?
A avaliação, na USP, consiste em uma aula de erudição, com o tema definido pelo próprio candidato; julgamento dos títulos e arguição do memorial, em que o candidato recebe três notas. O concurso foi realizado nos dias 11 e 12 de julho e o resultado foi apresentado a todos os candidatos no dia 12 de julho, às 19h30.
Com quantas pessoas a senhora concorreu?
Havia quatro candidatos concorrendo à vaga em questão, todos com alto nível acadêmico. Além de mim, da Otorrinolaringologia, havia dois candidatos da Oftalmologia e um da Cirurgia de Cabeça e Pescoço, pertencentes ao nosso Departamento.
Como foi o preparo ao longo dos últimos meses?
O preparo foi árduo, porém interessante. Tratou-se de uma excelente oportunidade de revisão e estudo mais aprofundado em diversos aspectos. Nós, candidatos, tivemos a oportunidade de discutir com os membros da banca examinadora questões atuais, tais quais: a importância de renovação e mudança do sistema de aprendizagem do aluno do curso de graduação; o sistema atual de avaliação dos cursos de pós-graduação da CAPES; o real valor das métricas atualmente utilizadas como fator de impacto das revistas nacionais e internacionais; o índice H dos pesquisadores; novas perspectivas para os cursos de Medicina, com as medidas impostas pelo governo atual; o Sistema Único de Saúde, entre outros. Todos temas relevantes que exigem participação direta dos docentes das universidades brasileiras.
Qual o sentimento ao conquistar o posto de primeira Professora Titular de ORL no país?
Um sentimento de alívio, extremo contentamento, dever cumprido, porém não de soberba; motivo de muita satisfação para mim e toda a minha família. Trata-se da sensação de reconhecimento de um trabalho desenvolvido nos últimos 25 anos no que tange ao puro engajamento na graduação e na pós-graduação da Universidade. Trabalho que, com o apoio de meus colegas de Departamento, acarretou na solidificação de um serviço de Residência Médica em ORL nota A; um programa de pós-graduação nota cinco na CAPES; permitiu-me vivenciar os problemas dos Otorrinolaringologistas e participar das atividades da nossa ABORL-CCF.
Qual será o seu desafio nessa nova etapa?
Manter a qualidade do serviço e da pesquisa que foi iniciada pelo Prof. Dr. José Antonio de Oliveira é sempre um desafio. Devo continuar atuando intensamente em minha profissão, como procurei fazer independente das circunstâncias, uma vez que a Docência é uma de minhas paixões. O Professor Titular deve estimular o pensamento e a criação; gerenciar o conhecimento; lutar pela melhoria contínua da qualidade de ensino da Universidade, da Academia; trabalhar com o intuito de contribuir com as mudanças que o momento exige, aperfeiçoando assim o curso, neste caso, de Otorrinolaringologia no que tange à grade curricular e, sobretudo, à qualidade de ensino. Na pós-graduação, almejo a manutenção da qualidade das publicações científicas e a valorização de nossos periódicos específicos. Como editora, minha responsabilidade junto ao BJORL aumentou bastante. Conseguimos o nosso primeiro fator de impacto medido pelo ISI, o qual se mostrou muito bom: 0.545. O desafio atual diz respeito ao seu melhoramento, por meio da atração de pesquisadores nacionais e internacionais, publicando artigos de excelência que possam gerar citações.
Que mensagem a senhora gostaria de deixar aos leitores do site da ABORL-CCF?
Gostaria de aproveitar a oportunidade para dizer aos jovens ingressantes na carreira de docência que a participação de todas as atividades da Universidade e das extracurriculares é muito importante. Os membros da minha banca levaram isso em consideração de uma forma contundente. Ficar apenas no laboratório publicando não é o mais importante. Para mim, não é possível exercer bem a Medicina sem praticá-la. Não é possível ensinar sem saber fazer. E assim, o professor universitário se vê às voltas com a prática médica, o ensino e pesquisa, atividades que se complementam e que não podem existir isoladamente. É isso que me fascina. O professor é um idealista que olha para frente com otimismo e determinação. Sempre. Por isso decidi seguir em frente e fazer o concurso para Professor Titular.
Segundo, gostaria de deixar meu mais sincero agradecimento a todos os meus amigos do nosso Departamento, da FMRP, da nossa ABORL-CCF, em especial ao grupo da Rinologia que me acompanha: Dra. Fabiana Valera, Dr. Edwin Tamashiro, Dr. Ricardo Demarco, Dr. Ricardo Lessa e Dr. Marcelo Leite. A todos que ajudaram a construir a minha história, meu “muito obrigada”.